A autoconfiança pode ser a maior inimiga do atleta de alto rendimento
Recebi recentemente através das redes sociais algumas questões interessantes sobre autoconfiança. Em uma delas, fui perguntado sobre a possibilidade de a autoconfiança gerar ansiedade.
Sendo assim, creio que a ansiedade seja um mal que atinja a sociedade atual, mas não a enxergo como resultado imediato de um excesso na autoconfiança.
Eu diria que a ansiedade é um fator muito mais importante e anterior.
Com certeza, o atleta está sujeito aos vícios e atrativos do mundo atual. A fama e os holofotes da internet e da mídia tradicional fazem parte do dia a dia. Muitos são extremamente ativos nas redes sociais, e também consumidores de conteúdo.
Síndrome do Pensamento Acelerado
Como a informação e as situações mudam rapidamente, temos acesso a ideias, imagens, cenas, estímulos que formam nossas memórias e história. Segundo Augusto Cury, a Síndrome do Pensamento Acelerado é o resultado dessa exposição massiva a experiências prontas que faz com que não tenhamos a tranquilidade e o tempo necessário para observar nossos próprios pensamentos.
Para o atleta, a capacidade de refletir sobre um erro cometido é um dos fatores de crescimento da sua performance.
Autoconfiança é fundamental
O excesso de autoconfiança é o problema. Confiar no seu potencial nunca será ruim para o atleta, ele só consegue conquistar aquilo que acredita ser possível. Essa é a premissa do esporte: alcançar níveis além da capacidade normal das pessoas, competir consigo mesmo para garantir uma rotina de treinos em forma de hábito, de paixão, de suor, e trazer alegria para si e para os que torcem pela sua vitória.
Tudo isso exige confiança de que os treinamentos feitos anteriormente vão trazer resultados que muitas vezes trazem.
Certa vez, contou o ex-treinador e jogador Johan Cruyff, que havia feito uma aposta com Romário, na época em que treinava o atacante brasileiro no Barcelona.
O rei da autoconfiança
Romário queria dois dias a mais de folga e pediu a Cruyff. O holandês garantiria os dias extras de descanso se Romário marcasse dois gols no jogo seguinte. Aos 20 minutos do primeiro tempo, Romário marcava os dois gols e já fazia sinal ao treinador para ser substituído.
Verdadeira ou não, a história ilustra bem o caráter de autoconfiança presente na personalidade de Romário.
A autoconfiança é um elemento importante do sucesso pois permite ao atleta reconhecer seus pontos fortes e confiar neles.
Contudo, em alguns, ela pode ser considerada arrogância e levar a algumas consequências ruins para o atleta.
No entanto, para entender o limite entre a autoconfiança e a soberba, durante as reuniões com os atletas que trabalho dentro do meu Método Atleta de Elite, observamos pontualmente quais os valores, princípios e virtudes que compõem a personalidade do atleta.
Por serem atletas de grande nome no futebol, UFC, natação e outros esportes, a exposição aos holofotes e a cobrança externa por vezes podem gerar uma confusão interna, a qual é gerenciada uma vez que conseguimos juntos focar o atleta para o que realmente importa em sua vida, e o que ele ou ela almeja alcançar em sua carreira.
As consequências do excesso de autoconfiança
Autoconfiança demais pode gerar displicência. O atleta obtém alguns bons resultados e é um pouco relapso em alguns treinamentos. Por vezes são alguns metros e repetições a menos. Em outras, o atleta acaba recorrendo a uma alimentação levemente desregrada ou ainda ao abuso de algumas substâncias prejudiciais à performance como o álcool ou o cigarro, ainda que socialmente.
Esses abusos por vezes levam a uma falta de atenção aos detalhes da preparação. O atleta passa a agir no modo automático e perde seu senso analítico. Erros passam batido e aumentam de frequência durante os treinos e competições.
Enfim, podemos enxergar essas consequências como evidências de uma estagnação na performance do atleta. Essa estagnação pode ser causada por pensamentos relacionados ao crescimento do atleta.
O mindset de crescimento
Igualmente, a psicóloga PHD Carol Dweck, em seu livro Mindset, define essa cadeia de pensamentos como o mindset fixo. Para Dweck, o talento ainda é visto como fator preponderante para o sucesso de um atleta. Inclusive entre treinadores e especialistas em esportes.
Para contrapor o senso comum, Carol Dweck nos mostra que essa mentalidade fixa bloqueia o crescimento da performance e prejudica o atleta após o fracasso.
No entanto, é claro que boa parte dos resultados dos atletas advém de um talento para o esporte. Porém, ao longo do tempo, a vontade de treinar e melhorar tem que se tornar uma paixão e o próprio objetivo final.
Dweck tem razão!
De fato, pode parecer surpreendente o fato de que esta mentalidade fixa origine-se nos esportes, afinal neste universo a relação entre treinamentos e aperfeiçoamento parece lógica. Conforme sugere o escritor Malcolm Gladwell, as pessoas dão mais valor aos dotes naturais do que à capacidade adquirida. Mesmo que em nossa cultura o esforço individual seja louvado, no fundo, as pessoas reverenciam aquilo que parece talento nato.
Então, por conta de trabalhos como o de Carol Dweck, sabemos que existe também uma forma de pensar que ajuda os atletas a lidarem com a derrota, focando em estratégias que aumentam a confiança e possibilitam o crescimento.
O fracasso
Dessa forma, o fracasso é visto apenas como uma etapa do sucesso e o foco do atleta é o processo em si. Michael Jordan exemplifica isso de maneira impecável: “Errei mais de 9 mil arremessos, perdi quase 300 partidas e em 26 oportunidades eu errei o arremesso final”. Conhecendo a história de Jordan, podemos afirmar que cada uma dessas vezes em que falhou, voltou ao treino com motivação redobrada.
Assim como em seu livro, a Dra. Dweck conta como Tiger Woods dominou o processo. Para ele, a habilidade é sempre uma obra inacabada. Portanto, muitas vezes os atletas de ponta perdem e continuam um longo tempo sem ganhar. Porém, eles dominam sua atenção e estratégia, e seguem firmes nos treinamentos. “Conheço meu jogo, sei o que quero realizar e sei como chegar lá”, conta Tiger Woods. E assim ele o fez durante sua vitoriosa carreira, mesmo abalada por escândalos e momentos de baixa performance.
Da mesma forma, esse pensamento ilustra bem o quanto nosso julgamento sobre a realidade pode ser um aliado ou nosso maior vilão. O importante para o atleta é estar aberto a duvidar das suas crenças e opiniões. Esse é o verdadeiro caminho para o crescimento.
Portanto, ter autoconfiança suficiente para ousar e obter os resultados que você busca é bom, usar a autoconfiança como um escudo contra a realidade desconfortável é ruim. Mas para alcançar esse nível é preciso coragem para aceitar quando se está errado ou quando não se tem certeza de qual decisão tomar. Essa, sim, é a verdadeira autoconfiança.
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